sexta-feira, 27 de março de 2009

A mulher no movimento associativo







É interessante, desde logo, recordar que o Associativismo se confronta, ao longo dos tempos, com uma história de opressão e, por isso, não surge do dia para a noite, nem em Portugal, nem em parte nenhuma. Por detrás desta palavra, a que corresponde um vasto campo de acção, há uma longa caminhada de lutas, de tentativas de afirmação, nos mais variados contextos de actuação em grupo, por oposição ao individualismo associado à supremacia do poder.

O Associativismo, nas suas múltiplas expressões e, em particular, nas colectividades de cultura, desporto e recreio, já representou uma poderosa força, pelo papel de intervenção na realidade social.

Em muitos casos, constituiu uma forma de participação cívica da maior relevância, correspondendo à única forma de acesso a actividades desportivas, culturais, recreativas ou de acção social.

Consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Convenção Europeia dos Direitos do Homem e na Constituição da República Portuguesa, de 1976, o Movimento Associativo persiste ainda hoje, um pouco por todo o nosso país.

A poucos dias da celebração do Dia Internacional da Mulher, será interessante determo-nos sobre a participação da mulher no Movimento Associativo.

Se, por um lado podemos afirmar que longe vão os tempos em que o papel da mulher incidia sobretudo na sua função de mãe, esposa e de dona de casa, por outro, podemos constatar que ela está hoje integrada em todas as áreas profissionais e do saber. Esta constatação leva-nos a afirmar que a mulher tem vindo a ganhar autonomia e afirmação progressivas.

Não há memória de que a mulher tenha tido momentos de grande afirmação no associativismo; podemos, no entanto, referir, a título de exemplo, alguns factos que nos conduzem à participação da mulher em actos de natureza cívica e, por isso também, nos movimentos associativos. Assim, em 1961, em Coimbra, instala-se uma forte controvérsia sobre o papel da rapariga universitária no quotidiano estudantil, numa atitude de questionamento e validação do feminino na posição a ocupar na sociedade portuguesa. Mais tarde, a participação das mulheres na crise de 65 e 69, orienta-se para uma progressiva naturalização da participação da mulher no conjunto da vida associativa.

Em Portugal, só em 2006 é promulgada a Lei da Paridade.

O caminho tem sido longo e, ainda hoje, a mulher está sujeita a velhas mentalidades que cerceiam a sua plena igualdade.

Pese embora, as grandes alterações operadas no pós 25 de Abril, podemos, sem grande dificuldade, constatar que, no movimento associativo, como noutros casos de participação cívica, a mulher teve sempre um papel de grande desigualdade, relativamente ao que sempre foi desempenhado pelo homem, muito particularmente em cargos directivos, tal como ainda acontece.

Não obstante isso, a presença da mulher é hoje uma realidade mais forte em contextos de afirmação de cidadania como seja em locais públicos de solidariedade social, em autarquias e outros locais de decisão política.


Março de 2009


Rosário Vaz

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