quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Educação mais cara!




Os manuais escolares serão mais caros este ano! Novidade? Não. Negócio apetecível? Sim.

Numa época em que as famílias vivem o desemprego crescente (mais de 500 mil desempregados), a falta de subsídios de desemprego por existirem mais famílias sem acesso a esta protecção social (cerca de 200 mil pessoas) aumentam-se os manuais escolares. Também as reduções salariais que as empresas têm imposto aos trabalhadores, que mantêm o seu emprego em dificuldades, seja por lay off ou por trabalho a tempo parcial, ou outro tipo de medidas que retiram poder de compra aos que vivem apenas do rendimento do seu trabalho, aumentam-se os manuais escolares!

Em plena crise financeira a solidariedade social devia ser muito mais efectiva e abrangente naquilo a que se considera ser essencial para que o abandono escolar e a qualificação dos Portugueses sejam cada vez mais motivo de satisfação para que nos possamos tornar mais eficientes no futuro. Mas se as condições para se estar na escola são cada vez mais exigentes em termos financeiros, com uma educação tendencialmente paga, contrariando a nossa constituição, como é possível que se combata o abandono escolar com aumentos dos manuais escolares em 4,5%? Assim não!

Com o desemprego nos valores que temos em que, segundo o INE, cerca de 9 em cada 100 Portugueses com capacidade para trabalhar estão desempregados será bastante difícil para muitas famílias fazer face a aumentos na educação. É necessário que existam medidas que possibilitem ter equidade na aprendizagem escolar para todos, tendo em conta que todos os estudantes têm acesso ao mesmo nível de material escolar porque a educação é uma necessidade fundamental para o país.

Não chega ter nas escolas actividades complementares, se depois muitas das crianças têm dificuldades em acompanhar essas mesmas actividades por existirem dificuldades financeiras e não terem acesso aos mesmos materiais escolares que são cada vez mais caros.
Cabe ao Governo fazer mais pela nossa educação, e o fazer mais pode passar pela canalização de meios financeiros às autarquias, para fazerem chegar a todos os alunos os manuais escolares, que são obrigatórios para o melhor desempenho escolar, de forma gratuita.
Também a reutilização de livros seria fundamental para melhorar o sistema educativo, mas também aqui parece haver algum desinteresse para que isso não seja possível acontecer.

Como é possível que os manuais escolares tenham aumentos superiores à inflação quando o Governo assumiu um compromisso com as editoras que o preço dos livros escolares não poderia ter aumentos superiores à inflação? Estamos perante alguma coisa que não está certa!

Daniel Bernardino

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Entrega de Listas





Foi entregue, ontem, 17 de Agosto, o processo de candidatura do Bloco de Esquerda – Barreiro, para as eleições autárquicas. Estiveram presentes no acto o Mandatário da Candidatura Dr. José Augusto Batista; o Mandatário para a Juventude David Neves; os candidatos à Câmara Municipal Drs. Mário Durval e Carlos Alberto Correia; o cabeça de Lista para a Assembleia Municipal, Dr. Humberto Candeias e o representante eleitoral do Bloco de Esquerda, cabeça de Lista à Junta de Freguesia do Alto do Seixalinho, Manuel Sabino.

Hoje, pelas 14 horas, no Tribunal Judicial do Barreiro, na presença de representantes dos partidos concorrentes, teve lugar o sorteio de posicionamento nas listas de voto. Coube ao Bloco de Esquerda a colocação em 5º lugar. Nas freguesias onde não concorrem todos os partidos o posicionamento será automaticamente corrigido.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Ai de quem




Sentado na varanda do seu desejo o poeta trabalha no poema. O mar em frente penetra-o pelo olhar. Ausente, vai modelando no seu íntimo a mais sublime peça poética que o mundo poderá saborear. As palavras saem do arquivo da memória, passam no coador do gosto, juntam-se na epiderme da sensibilidade, prontas quase à recusa ou ao conceito do conhecimento.

Já a este poeta foram tecidos nas praças das letras hagiografias intocáveis. É um homem de cultura e nome feitos. Fala-se dele nos jornais e outros meios de comunicação titulando-o de enorme, monstro das letras, talentoso, inspirado, um que sei mais de qualificativos em extremo. Quase se pode ficar esmagado debaixo do peso de tal fama.

Mas o nosso poeta gosta. E mais, pensa que é de menos. Considera como insuficiente a glória tida. Tal como o oceano, que o contempla, ele aspira à sem razão de medida. Um infinito será talvez suficiente, mas o grande que ele tem é ainda pequeno. Quer muito de mais. Por isto, ele se pende sobre o mar. Ele busca, ele constrói. Por isso, lentamente o seu poema toma forma, vai crescendo. E no mirar-se, fazendo-se poema, não pode ouvir, queixando-se solitária a mulher que quis ser a companheira e está sozinha, atrás do poeta, atrás do mar, muito aquém da varanda do desejo, onde se busca, onde se perde, onde a memória recusa qualquer coisa que não seja o poema em escrita.

O mundo rola. Na cidade perto do mar a vida das pessoas flui. É comummente atroz e agradável. Nas marítimas ruas dessa cidade perpassam gaivotas e aromas salinos entremeados de vozes. Um mundo de gente, de barcos, de irmãos e inimigos. Nesta cidade edifica-se a glória do poeta. São aquelas mãos dadas que o lêem , o fazem grande e o mitificam. Dele sabem apenas os seus versos. O poeta é uma forma de leitura. Do homem nada sabem. Por isso o idealizam puro como uma intenção, por isso ele se pensa plano e sereno tal uma grande planície levemente soprada pela brisa, onde toda a calma permanece estável há séculos sem conto.

De mansinho, como que estando numa igreja sem ninguém, os medrosos dedos tacteiam os ombros do poeta. Ele volta-se de rompão, desabrido. Malcriado grita à mulher a estupidez do momento em que lhe perturbou os sentidos quando a rede da sua imaginação, quase-quase, aprisionara a fúlgida borboleta da inspiração.



Perante o pavor expresso nos olhos da companheira ao aceitar, passiva, o sacrilégio cometido, cresce-lhe no peito o gozo do poder. Desencarnando um largo gesto, olímpico na fala, teatral no todo, berra desaustinado o manso poeta dos versos, tocantes e oficiais, para namorados de acordo com a ordem social vigente, aceite e recomendável. À companheira diz da grandeza de que está investido. Aumenta-se diminuindo-a. Ela, transida e crédula, sente a desgraça no olhar irado do deus.

Amachuca-se, pede perdão. O poeta-deus, terrível aponta no acusador índex, a saída do paraíso.

A mulher, derrotada, em vão implora a graça de um olhar, de uma palavra amiga, de um pouco da compreensão que ele esbanja por páginas e páginas de romances e poemas elevados à celebridade dos compêndios escolares. Nada demove a granítica vontade .A mulher desaparece da sua vida deixando o cenário do conto um pouco mais vazio.

Intemporal o poeta continua a criação do grande poema, do último, do definitivo. Com ele encerrará a sua obra e todas as outras obras ainda por escrever. Ele será o último e o único. Ele poema. Ele poeta.

Ao que parece, na cidade junto ao mar passou a fome, a guerra, a doença. Nada tocou o poeta. De nada se apercebeu. A sua obra enche-o por completo. É o trabalho mais importante do mundo. É a esperança de toda a gente. Ele dirá tudo, ele resolverá todos os problemas.

No princípio, tal como no fim, será o verbo...

Na varanda do seu desejo o poeta , contemplando o mar, envelheceu e morreu. O seu último poema, unanimemente considerado uma obra de génio, um programa de vida e o retrato daquele homem amável e humano, começava assim:

Ai de quem vive a vida instalado
na varanda do desejo virado ao mar ...

Ai de quem egoísta e santificado
não deu de si aos outros mais que simulação

Ai de quem Ai de quem Ai de quem
estragou a sua vida na contemplação ...




Carlos Alberto Correia